Dark Brasileiro: Como a novela Kubanacan antecipou um dos maiores mistérios da Netflix
- Jéssica Esteves
- 12 de fev.
- 4 min de leitura
Viagens no tempo, paradoxos e múltiplas versões do mesmo personagem. Kubanacan explorou conceitos que anos depois fariam sucesso em Dark.

(Atenção: este texto contém spoilers de Kubanacan e Dark.)
Quando Kubanacan estreou na Globo em 2003, o público foi apresentado a uma trama que misturava comédia, ação e ficção científica de maneira inédita na teledramaturgia brasileira. O que começou como uma novela aparentemente despretensiosa se revelou uma história complexa, repleta de viagens no tempo, paradoxos temporais e loops narrativos. Quatorze anos depois, a Netflix lançou Dark, uma série alemã que conquistou o mundo ao explorar conceitos semelhantes, mas de forma sombria e densa.
A principal conexão entre as duas produções está na jornada de seus protagonistas. Tanto Esteban Maroto, em Kubanacan, quanto Jonas Kahnwald, em Dark, são personagens que iniciam suas histórias desorientadas, sem compreender sua verdadeira identidade e papel na linha do tempo. Ambos se veem presos em um ciclo de eventos predestinados, sendo obrigados a lidar com versões de si mesmos em diferentes momentos da história.
A jornada do herói perdido no tempo
A estrutura narrativa de ambas as obras gira em torno da busca pela identidade do protagonista. Em Kubanacan, Esteban Maroto aparece em uma praia desmemoriado, sem saber quem é ou de onde veio. Seu passado é um mistério, e ele embarca em uma jornada para descobrir sua origem. A cada pista que encontra, mais confuso ele fica, até que percebe que sua história está interligada ao destino de Kubanacan de uma maneira que ele jamais imaginou.
Em Dark , Jonas Kahnwald também começa sem compreender seu papel na complexa trama temporal da cidade de Winden. Inicialmente, ele apenas quer entender que o mundo ao seu redor parece desanimado após o suicídio de seu pai, Michael Kahnwald. No entanto, conforme a história avançada, ele descobre que sua própria existência está ligada a acontecimentos que ocorreram muito antes de seu nascimento, em um ciclo aparentemente inquebrável.
Uma grande virada para ambos os personagens ocorre quando eles percebem que não são apenas peças no tabuleiro do tempo, mas sim os próprios arquitetos dos eventos que vivem.
Múltiplas versões do mesmo personagem: O tempo como espelho
Um dos aspectos mais impressionantes de Kubanacan e Dark é a forma como cada uma lida com as múltiplas versões de um mesmo personagem coexistindo em diferentes momentos da linha do tempo.

Na novela, Marcos Pasquim interpreta quatro versões diferentes de Esteban Maroto:
Esteban, o protagonista sem memória, tentando entender sua própria história.
Adriano Allende, um revolucionário com motivações ambíguas.
Leontino, um homem misterioso que parece saber mais do que diz.
Campeão, uma versão mais velha e experiente de Esteban.
A revelação de que todos são o mesmo personagem, apenas em momentos distintos de sua linha do tempo, é um dos pontos altos da novela. Esteban não apenas interage consigo mesmo em diferentes fases da vida, mas também influencia sua própria jornada sem perceber.

Já em Dark , Jonas enfrenta um dilema parecido. Ele descobre que sua versão mais velha se tornou Adam , um homem amargurado e disposto a destruir o ciclo temporal que rege Winden. Esse embate entre Jonas e Adam traz uma profundidade filosófica à série: será possível escapar do próprio destino ou estaremos fadados a repetir os mesmos erros?
A diferença fundamental entre as duas produções é o tom. Enquanto Kubanacan trata esse paradoxo temporal de forma econômica e aventureira, Dark mergulha em um existencialismo sombrio, levantando questionamentos sobre livre-arbítrio e determinismo.
O paradoxo do pai e filho
Outro ponto em comum entre as histórias é a revelação chocante de que o protagonista é, na verdade, pai de um dos personagens com quem convive.
Em Kubanacan, Esteban descobre que é o próprio pai. Esse tipo de paradoxo temporal, onde o personagem gera sua própria descendência sem entender como isso aconteceu, é um dos grandes mistérios da novela.
Em Dark, essa ideia é levada ao extremo com a revelação de que Jonas é pai de Tronte Nielsen, um personagem cuja linhagem se conecta diretamente à família que está no centro dos eventos da série. Isso cria um ciclo fechado onde gerações coexistem de forma paradoxal, sem um ponto de origem clara.
Loops temporais e o destino inevitável
Ambas as produções exploram a ideia de que o tempo não é linear, mas sim um ciclo que se repete infinitamente.
Em Kubanacan, as viagens no tempo fazem parte do enredo desde o início, mas a verdadeira complexidade da trama só se revela com o passar dos capítulos. Esteban, ao tentar mudar o destino, acaba se tornando peça-chave para que os eventos ocorram exatamente como deveriam. O conceito de "tudo já aconteceu e sempre acontece" está presente na novela de maneira semelhante ao que ocorre em Dark.
Na série alemã, essa colocação é levada ao limite com o conceito do Eterno Retorno. Personagens tentam alterar os acontecimentos do passado para mudar o futuro, mas acabam sempre reforçando o ciclo temporal. O tempo, em Dark, não é algo que pode ser moldado livremente — ele segue regras rígidas e impiedosas.
Duas formas de contar a mesma história
A maior diferença entre Kubanacan e Dark está no tom narrativo. Enquanto a novela brasileira trata os paradoxos temporais com um olhar divertido e aventuresco, a série alemã constrói uma atmosfera pesada e filosófica.
Kubanacan mistura ficção científica com humor, romance e ação, apostando no carisma de seus personagens e nas reviravoltas mirabolantes. Já Dark investe em uma trama densa e introspectiva, onde cada detalhe é cuidadosamente planejado para se conectar ao grande mistério central.
Porém, ambas juntas um ponto essencial: a ideia de que o tempo não é uma linha reta, mas um labirinto do qual é impossível escapar.
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